Você
Foi difícil ter que voltar
para a Inglaterra depois de tudo. Passei meses chorando e pensando sobre a
nossa antiga vida e o quanto eu gostaria de voltar a trás. Claro, eu jamais
faria isso, mas a vontade era grande.
Não, eu não estava ali por
ele, muito pelo contrário. As crianças fariam aniversário logo e um dos acordos
entre nós era que as festas deles só seriam feitas com ele presente.
Eu vim antes apenas para
garantir a vaga do apartamento que eu queria há algum tempo, e consegui. É
pequeno, mas não deixa de ser confortável.
Os meus filhos estão enormes,
principalmente Cody que está bem gordinho. Eles estão naquela fase de balbuciar
ou tentar repetir qualquer coisa que ouvem e para falar a verdade, é uma das
fases mais gostosas para ser mãe.
Eu estava na cozinha
terminando de lavar os poucos pratos do almoço enquanto eles brincavam na sala.
A mesma estava uma bagunça de brinquedos por todo lado.
Eu tive tanta sorte. Meus
filhos eram uma bênção para mim. Mesmo que eu não tivesse ajuda nem nada
semelhante para criá-los, eles eram ótimos filhos. Sempre achei que seria
difícil criar duas crianças ao mesmo tempo, e era, mas só de saber que eu
estava fazendo certo já me deixava feliz.
- Jess, deixe seu irmão em
paz! - Ri observando a levada garotinha que me deixava de cabelos em pé.
Sempre que Cody tomava
coragem para tentar se levantar e ficar de pé, ela se apoiava nele para tentar
fazer o mesmo. Resultado: os dois caíam.
- Querem ajuda? - Ri novamente.
Os dois disseram juntos algo
difícil se decifrar, mas preferi encarar aquilo como um sim.
Fui até eles e coloquei cada
um em pé apoiados em dois puffs que tinham ali, bem no centro da sala. Os dois
começaram a se balançar felizes e animados com a pequena vitória, mas aquilo
tudo não durou muito tempo. Logo caíram sentados no chão rindo e cada um foi
para seu lado engatinhando rápido, mas sem deixar as risadas para trás.
- Onde vão? - Olhei curiosa
com as mãos na cintura. - Cody, nada de arrancar as calças!
Corri até ele para impedir
que ele fizesse isso de novo, já era a terceira vez do dia.
- Jessie, chega de gritos com
a televisão. Ela está desligada filha. - Ri alto e me aproximei dela.
Poderia até pensar que não
estavam me entendendo, mas eu sabia que estavam.
- Vocês me dão trabalho vinte
e quatro horas por dia, não têm pena de mim?! - Dramatizei, mas eles apenas
engatinhavam de um lado para o outro sem parar.
Ouvi o soar da campainha e
fui até a porta. Antes de qualquer coisa, observei a bagunça da sala e abri
decidida que não deixaria entrar quem quer que fosse.
- Pois não? - Olhei para o jovem
moço já o reconhecendo.
- Não precisa falar inglês
comigo, fofinha. - Gabriel sorriu para mim.
Não pensei duas vezes antes
de pular e o abraçar com força. Eu não o via há cinco meses.
- Como me encontrou aqui?
- Sua mãe não sabe guardar
segredo. - Riu. - É impressão minha ou estou ouvindo som de gêmeos bagunceiros?
- É, são eles. - Dei espaço
para ele entrar.
- Onde eles estão? - Entrou
procurando.
- Bem ali. - Apontei para os
dois que estavam novamente se divertindo com os brinquedos espalhados na sala.
Sorridente, Gabriel foi até
eles e beijou cada um enquanto falava algo que eu não podia ouvir. O
observando, não consegui deixar de sorrir. Ele era um amor.
Mesmo que ele não tivesse
pedido, eu já sabia desde o começo que a vontade dele era ser padrinho dos meus
filhos e assim foi feito. Desde então, a maioria dos presentes e brinquedos que
eles tinham, eram todos dele.
- Esqueci de trazer comigo,
mas os presentes estão no carro. - Ele me olhou.
- Gabriel, pelo amor de Deus,
chega de presentes. Eles vão ficar mimados! - Já era a quinta vez que eu dizia
aquilo.
- Desculpa, eu não resisto. -
Sorriu.
Balancei a cabeça e voltei a
atenção para meus filhos enquanto ele saia. Eles estavam se comunicando entre
si e pareciam realmente se entender. Incrível, eles eram a minha família. Por
mais que pequena, eram uma boa família. E mesmo que não soubesse disso, Gabriel
também fazia parte dela. Ele sempre nos visitava em datas comemorativas e até
me fez uma surpresa no meu aniversário. Foi incrível, maravilhoso.
Depois
de toda aquela confusão e a minha separação com Harry,
arrumei um bom emprego para sustentar minha casa. Claro, Harry sempre mandava
o dinheiro das crianças. Mas eu tinha algo em mente,
o que era deles, era deles.
Meus
filhos já estavam com cinco meses e eu já estava bem
estabelecida no emprego como estagiária de escritório. Durante a minha ausência,
eles ficavam numa creche particular bem perto de casa.
Eu
trabalhava cerca de sete a oito horas por dia e tinha duas folgas na semana. Eu
sempre chegava exausta, mas nunca deixava de ter tempo para os meus pequeninos.
Nesse
dia, Gabriel estava em casa por conta de algum feriado na cidade onde
ele residia. Então com isso eu não precisava me preocupar em
pegar Cody e Jessie na creche.
Em
pleno aniversário, eu estava chegando mais do que tarde em
casa. As luzes estavam todas apagadas e eu já podia sentir que todos
já dormiam. Abri a porta e respirei fundo, eu apenas podia ouvir
o barulho das minhas chaves sendo retiradas por
mim da porta. Assim que me virei para a escura sala, pude ouvir uma respiração além da
minha e logo ouvi aquela voz.
- Chegou tarde, não?
Sorri
fraco e suspirei.
- O
que faz acordado à essa hora? - Olhei de um lado para o outro tentando
identifica-lo ou até mesmo encontrar o interruptor.
-
Achei que gostaria de ao menos comemorar o seu aniversário.
- Já é
quase meia noite, creio que não é mais válido. - Ri
sem humor e ouvi ele rir baixinho.
- Você disse
quase. - De repente algumas velas se acenderam e eu percebi que
estava em meio a um jantar. Um jantar a dois. A mesa estava linda, com
velas e flores vermelhas e brancas. - Creio que ainda podemos comemorar alguma coisa.
- Sorriu.
Sorri sem jeito
e vergonhosamente segui para a fina mesa. Eu havia me esquecido completamente que ele
era um bom chefe de cozinha. Ou seja, o jantar seria por
conta dele.
Conversamos,
rimos e eu podia dizer que há tempos eu não me sentia tão
à vontade com alguém. Ele era um amor, uma graça e fazia muito bem para
mim.
- Voltei! - Ele chegou
animado com várias sacolas com estampas infantis.
Não posso negar que me
assustei, mas nada que tenha sido perceptível. Me sentei no sofá e observei
enquanto ele ajudava as crianças a rasgarem as embalagens. Já estavam tão
acostumadas a essas mordomias que já sabiam até como proceder ao ver uma caixa
com estampas coloridas.
- Como sempre, adoraram. -
Ele se sentou ao meu lado com um sorriso encantador.
- É, como sempre. - Sorri
também.
- Você tem espaço para mim
aqui, ou será que terei que procurar um hotel? - Passou o braço por meus
ombros.
- Como tenho certeza da sua
falência por comprar tantos brinquedos, vou arrumar algo para você aqui. - Ri
enquanto me aconchegava nele.
- Ótimo.
- Beijou minha testa e continuamos a observar as crianças brincarem.
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